Praxe (Parte 1 de muitas)

O que aconteceu no Meco foi certamente uma tragédia. Morreram 6 pessoas devido a parvoíce generalizada.

De um momento para o outro culpabiliza-se a praxe pelo sucedido. Porquê?

Porque vende.

A comunicação social adora “as praxes”. Adora porque toda a gente as odeia. Melhor: toda a gente odeia a imagem que a própria comunicação social passa “das praxes”.

É a bela da pescada de rabo na boca. E são agora semanas e semanas em que as televisões passam re-runs de footage que têm lá no arquivo desde 1992.

E o pior é que tem fundamento. As imagens que passam na televisão não são fictícias, ou construídas em estúdio. São reais.

Essa é a parte que dói, especialmente para praxistas como eu. Que na luta contra esta ideia absurda e imbecil de que as praxes são todas iguais e que se resumem àquela merda, haja tão pouca prova em contrário.

É uma luta que a Praxe não consegue ganhar. Tem demasiados oponentes: “as praxes”, a comunicação social e a imbecilidade da populaça.

Sim, imbecilidade. Incapacidade de perceber que pessoas diferentes fazem coisas de maneira diferente, e que a merda das praxes do Piaget, embora lugar comum, não representam a totalidade da Praxe. Muito menos a qual fui sujeito, e fiz.

Noutro dia li este comentário num blog post recheado de ódio ao incompreensível. Acho glorioso:

Aos defensores da praxe apenas coloco uma questão. Conhecem a sua origem? Porque se conhecessem saberiam que tiveram o seu início na discriminação das classes sociais mais elevadas aos primeiros membros do povo que se atreveram a alcançar o ensino universitário. Os filhinhos dos senhores doutores, habituados a destacar-se por berço e não por mérito, tudo inventaram para humilhar e derrubar quem ousava, apenas com o dom da inteligência, suplantá-los. Não sabiam pois não meninos?

Não. Não sabia. Porque está errado. Desligue a puta da televisão e enterre a cabeça nos livrinhos e vai ver como que o que disse tem menos valor do que um cão a ladrar. Pode começar com o “Academia de Coimbra”, das Edições Rex.

É aquela mentalidade preconceituosa e mesquinha duma população que ainda dá audiências altas à Casa dos Segredos. Sim filhinho/a, é tão besta como “essa gente”.

— É preto? Vai-me assaltar.

— É cigano? Cuidado com a carteira.

— É praxista? É burro que nem um penedo e anda a maltratar as criancinhas.

“Criancinhas” essas maiores de idade. Abéculas sem espinha para bater com o pé no chão e dizer “não faço, não está certo”. Mansos que só quando se vêm em número é que libertam o ódio que têm. Pessoas muito pequininas.

Quem estava na praia do Meco tinha espinha. Aceitou a Praxe. Sabia para o que ia. Teve a infelicidade de morrer com ela. São uns heróis, e estão a ser tudo menos honrados com o que se tem passado.

Porquê? Porque meio país está precisamente agora a chamar-lhes de bestas a filhos da puta. Não esquecer que eram doutores. Aquelas mesmas pessoas que maltratam as “criancinhas”.

Noutro dia emborcou um barco com alguns pescadores de recreio. Pereceram também, pobres. Abaixo a pesca desportiva.

Acho muito bem que se investigue a causa deste presumível acidente. O Dux podia fazer menos figura de urso e cooperar plenamente com as autoridades.

Mas até ver, meus caros, a investigação não acabou. Há gente qualificada a apurar as causas e, quando acontecer, tirar-se-ão conclusões.

Até lá, tudo o que sai da boca da populaça é merda, ódio, frustração pela pila/busto pequeno, e lôdo.